segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

a imagem fictícia do poema. do corpo.

1.
Uma linguagem de súbito imperceptível:
O desenho de uma palavra persegue o tecido frágil da pele.
Inaugura o momento cúmplice.
O corpo respira, atinge o silêncio,
Imóvel sob os dedos.

2.
O pensamento é um rio orgânico.
Uma língua cerebral onde as palavras
Abrem o caminho para o limiar da memória,
Para a longínqua claridade das formas.
Um fogo de vozes no centro do próprio corpo.

3.
O silêncio comunica com as imagens os sinais
Do corpo na pele de outras palavras.
Escrevo de fora do corpo
No deserto do fogo tão necessário
Ao destino das águas.
Uma luz interminável conduz a mente
Até à infecção do poema.

4.
Sob o fogo esta boca de luz vegetal.
A possibilidade da água reviver
O espaço inominável da sede.
Percorrer a superfície lenta do poema
Como se em cada palavra existisse
Uma substância viva
Uma pulsação real.

5.
Uma palavra amanhecendo dentro do peito.
As palavras que partem para o infinito
Descrevendo um movimento de luz.

6.
Como se fosse um fruto:
Abrir o rosto da manhã.
Fazer a divisão do pensamento.
A imagem fictícia do poema. Do corpo.

in poemas recuperados

Publicado por Fernando Esteves Pinto em Novembro 5, 2007 04:54 PM
Ver também em: http://escritaiberica.weblog.com.pt/arquivo/255870.html

Recolha de Sérgio Costa - EB 2.3 D. Afonso Henriques - Guimarães

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